Lulu era uma garota muito amável. Essa é a melhor descrição que tenho dela, por este ser o maior desejo que ela tinha: ser amada. E a menina se esforçava por esse objetivo. Apesar de ser agradável, carinhosa e dócil, ela nunca se sentia amada o suficiente. Com seu sorriso lindo, brilhante e cativante conquistava qualquer pessoa fácil, ou quase isso.
Ela conheceu Maria, uma garota muito esperta, inteligente e amante. Não era muito amável, antes, era desagradável, rude, fria, às vezes perversa e costumava contrariar as pessoas. Maria costumava ser fechada, chata, poucas palavras e evitava as pessoas. Quando Lulu a viu, desejou ser sua amiga. Ela tinha todos, mas isso era pouco. Sempre era pouco.
Lulu começou a gostar de tudo o que Maria gostava. As músicas desagradáveis, as comidas sem gosto, as fotos sem sentido. Tudo o que Maria fazia, de repente, tornou-se interessante para a conquistadora, que a seguia incessantemente. Grudou nela, atraindo o agrado da amiga. E pouco a pouco o fez, mas Maria era muito teimosa, mais do que as outras garotas. E tudo o que Lulu lhe pedia, ela se negava a dar. Mas um belo dia, Maria resolveu ceder, e logo, sem perceber, estava sob o feitiço da amabilidade de Lulu.
Maria começou a ser enfeitiçada também pelo choro, pelo drama, e depois, no limiar da conquista, pelo dengo. O tempo passava, e a “amizade” crescia. Lulu virou Luiza, cada dia mais satisfeita, tornava-se mais importante para Maria, que a cada dia, tinha que provar à amiga que a amava. Faça isso, faça aquilo. Faça esse absurdo, aquele, aquele outro.
O esforço para provar o seu amor era a cada dia maior. Luiza era insaciável, e Maria, apesar de se cansar, se esforçava para ser leal, enquanto a amiga, se enchia de satisfação por sua “amizade”. Maria tinha rugas de cansaço. Luiza, pequenos traços lindos e meigos proporcionados pelo amor de seus amigos, principalmente de sua melhor amiga.
Um dia, Maria resolveu pedir. Hmmm… Elas brigaram. Luiza dengou, e nada. Dramou. Nada! Chorou lágrimas sinceras. Ela sofreu. O direito de pedir era seu, e não a sua amiga falsa, fingida, traidora. “Quem ela acha que é?” pensava. Até que declarou em alta voz, em praça pública: “Você não vive sem mim, até onde você acha que vai com isso?”
Maria pensou sobre aquilo. “Pra onde eu vou? Ela é minha única amiga.” E, pelo medo de ficar só, voltou aos pés da querida amiga, pediu perdão e voltou à sua habitual escravidão. Ela estava subjugada à vontade da amiga. Mas um belo dia, Luiza foi embora. Achou trabalho em outra cidade, e sem pestanejar, atirou-se e zarpou. Maria ficou.
Hoje, Maria, com toda sua capacidade de amar, vive só, com medo de amar errado e sofrer novamente, como nas histórias que aconteceram em sua vida. Tornou-se rude, fria, às vezes perversa e contrariando a vontade das pessoas, apesar de ser esperta e inteligente. Enquanto Luiza, achou novos amigos, é amada por todos, por bem ou por mal. Drena amor para o seu ego insaciável, o buraco negro da alma.
“Quem te usa não é teu amigo” Ed René Kivitz